terça-feira, 26 de junho de 2012

areia nos olhos

Acompanhada de duas amigas ela entra no bar. 
Demorou apenas cinco minutos pra notar a presença dele, exatamente no mesmo instante em que ele olhou nos olhos dela.
Sair correndo foi tudo que ela conseguiu fazer diante daqueles olhos que a encaravam com alguma espécie de medo e paixão.
Mas ele a segura, ela o abraça, sente as lágrimas rolarem no seu rosto por exatos 5 segundos contados. 
O tempo necessário para ele abaixar a guarda, ela foge.
Ele vai atrás dela e a alcança há poucos metros do bar.
As amigas dela tentam se aproximar, mas ali tem algo muito além de um conflito amoroso romântico de dois semi-conhecidos que se relacionaram por uns instantes em uma noite qualquer. 
Ninguém entendia porque eles estavam agindo daquela maneira, mas ninguém ousou impedir.
Ele a puxa pelo braço e a encara
Ela, apesar de toda emoção e medo, sustenta o olhar.
Ele coloca a mão em torno do pescoço dela, que permanece imóvel, e aperta.
A mão é delicada de arte, mas forte, e ele começa a apertar com cada vez mais força, enquanto ela sente uma espécie de alívio, conforme os sentidos vão lhe deixando o corpo
Então ele para.
Ela respira, e sai andando em passos rápidos em direção a praia.
Ele a segue a aproximadamente um metro de distância.
As amigas e outros colegas também decidem acompanhar os dois. Eles são como expectadores de um filme nouvelle vague francês contemporâneo, no qual os atores não podem existir no mundo real.
Eles caminham por aproximadamente vinte minutos sem trocar uma palavra.
Ela senta no calçadão da praia, com os pés encostados na areia, espera ele sentar ao seu lado e chora, com muitas lágrimas e soluços, com muita sensibilidade e dor.
Ele não diz nada. Sua expressão é séria enquanto a observa chorar. Ele espera.
O público os observa a uma distância segura do outro lado da rua.
Eles não percebem, pois estão em um mundo a parte.
Por impulso, como tudo até aquele momento, ela corre para o mar.
Ele continua observando-a com uma estranha tranquilidade.
Ela se joga no mar e continua indo cada vez mais pro fundo. 
Ela quer morrer.
Ele percebe.
Então corre até a beira do mar e a chama.
Mas ela já está longe.
Ele vai atrás dela e com alguma dificuldade consegue trazê-la de volta nos braços.
Então ele a joga na areia e com violência arranca-lhe a roupa.
Os amigos assistem a tudo não acreditando ser real.
Ela não reage e deixa que ele a possua selvagem como animal.
E como animal ele se sente.
Mas ela não se sente da mesma forma, tudo que ela sabe é que já não pode mais viver sem ele e o odeia porque o ama.
Quando ele termina o sentimento de violência passa, ele a abraça e a protege do frio.
Ela aproveita o que pensa serem os últimos minutos em que pode se sentir segura nos braços dele. 
Ela estava enganada.
Ele a ajuda a colocar a roupa e sem dizer uma palavra a leva para sua casa.
Os dois tomam banho juntos e são carinhosos como crianças inocentes que ainda não experimentaram o sexo. 
Como crianças, só que sem palavras.
E eles dormem abraçados e seguros até o dia chegar e os obrigar a pensar.
Até o dia chegar e os obrigar a falar. 
Até o dia chegar e os obrigar a se envergonhar. 
Até o dia chegar e os obrigar a se culpar. 
Até o dia chegar e os obrigar a magoar um ao outro. 
Até o dia chegar e os obrigar a se afastar.

Um comentário:

  1. “Deixar de lutar por uma pessoa não significa ter deixado de ama-la,
    e sim a simples certeza de tê-la perdido.”

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