quinta-feira, 2 de junho de 2011

Efêmera

Não era especial, mas era diferente de todas as outras obras que estavam naquela sala. Podia estar em qualquer galeria, em qualquer exposição com muitas outras do mesmo estilo sem se destacar, mas ali naquela sala não tinha nada nem parecido.
Era só parede, lona, massa corrida, um velho livro de física e pequenos papeis com números aparentemente sem sentido. 
Pra mim ela fazia todo sentido, era o futuro, ela estava ali e era o futuro daquele lugar, daquelas obras todas. Aquela obra conversava comigo e me dizia:
 - Sou seu futuro Aline! Sou ruína, sou estrago, sou efêmera e me despedaço, assim como você.
Quando ouvi o seu recado não senti medo, pelo contrário, me apaixonei por ela, pela obra! Naquela sala não existia mais ninguém como nós, eu e a obra. Ainda pensava que era feita de giz, quando senti vontade de "entrar" dentro dela. 
O prazer e o deleite de me fundir naquela parede e me decompor, virar pó de giz, e não ter mais que pensar, nem agir e nem viver, por um instante me dominou.
Senti saudade do futuro, aquele futuro óbvio, que assusta tanto as pessoas, mas ao mesmo tempo é bonito. 
É bonito ser efêmero. Ninguém suportaria ser eterno.




Artista : Ricardo Kolb


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