domingo, 29 de maio de 2011

only unfulfilled love can be romantic

Agarrando-se as costas de Lancelote, seu vestido puxado acima dos joelhos e as pernas nuas caídas, Gwenhwyfar fechou os olhos enquanto cavalgavam com dificuldade através da noite. Ela não tinha a mínima ideia de para onde estavam indo. Lancelote era um estranho, um guerreiro com face endurecida, um homem que jamais conhecera. Houve um tempo, pensou, em que teria ficado horrorizada de ficar ao relento, assim a noite... mas ela sentia-se excitada, bem-disposta. No seu íntimo havia dor, também luto pelo gentil Gareth, que fora como um filho para Arthur e merecia uma vida melhor do que ter sido abatido daquela forma - e se perguntava se Lancelote sabia, ao menos, quem ele matara! E lamentou o fim dos seus anos com Arthur, e todos aqueles que ela compartilhara por tanto tempo. Mas para o que acontecera esta noite não havia retorno. Ela inclinou-se para frente a fim de ouvir Lancelote acima da corrente do vento.
    -Temos de parar em algum lugar logo, o cavalo precisa descansar... e se cavalgarmos durante o dia, meu rosto e o seu são conhecidos por todo esse lado do país.
Ela meneou a cabeça, assentindo; não tinha fôlego para falar. Depois de algum tempo, entraram em uma floresta pequena, onde ele parou e levantou-a gentilmente da traseira do cavalo. Conduziu o cavalo para a água e depois estendeu seu manto no chão para ela sentar-se. Lancelote fixou o olhar na espada ao seu lado.
   - Eu ainda tenho a espada de Gawaine. Quando eu era rapaz, ouvi lendas sobre a loucura da luta, mas não sabia que estava em nosso sangue... - e suspirou pesadamente. -Há sangue na espada. Quem eu matei, Gwen?
Ela não podia suportar a visão de sua mágoa e culpa.
   - Houve mais de um...
   - Sei que golpeei Gwidion - Mordred, maldito seja. Sei que o feri, quando ainda estava em meu juízo perfeito. Suponho... - sua voz emudeceu - que não tive a sorte de matá-lo?
Silenciosamente, ela balançou a cabeça.
   - Então, quem? - ela não disse, e ele inclinou-se e tomou seus ombros tão rudemente que, por um momento, Gwenhwyfar teve medo do guerreiro que jamais fora seu amante. 
   - Gwen, conte-me! Em nome de Deus... matei meu primo Gawaine?
Isto ela podia responder sem hesitação, contente que ele tenha perguntado por Gawaine.
   - Não. Eu juro, não foi Gawaine.
   - Podia ter sido qualquer um - disse ele - olhando a espada e estremecendo. - Juro-lhe, Gwen, eu nem sabia que tinha uma espada na mão. Eu golpeei Gwydion como se ele fosse um cão, e, depois não me lembro de nada, até estarmos cavalgando... - e ajoelhou-se diante dela, trêmulo, murmurando:
   - Estou louco de novo, creio que é como da outra vez em que estive louco...
Ela estendeu-lhe a mão, segurou-o contra si com uma selvagem ternura.
   - Não, não - ela murmurou - ah, não, meu amor... eu lhe trouxe tudo isso, desgraça e exílio...
   - Diz isso quando eu lhe trouxe estes infortúnios, afastando-a de todas as coisas que tanto significam para você...
Desesperada, ela apertou-se contra ele e suspirou:
   - Quisera Deus que o tivesse feito antes!
   - Ah, não é demasiado tarde: sou jovem outra vez, com você ao meu lado, e você jamais foi tão bela, meu querido amor... - Ele empurrou-a para o manto, rindo em abandono: - Ah, agora não há nada para se interpôr entre mim e você, ninguém para nos interromper, ah, Gwen, Gwen...
Quando ela aconchegou-se em seus braços, lembrou-se de um nascer do sol no quarto do castelo de Meleagrant. Era como agora: e agarrou-se a ele, como se nada mais houvesse no mundo, nada além dos dois.



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