segunda-feira, 18 de abril de 2011

Eros e Psique

Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era
tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só
eram devidas à própria Afrodite.
Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo
homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se profundamente.
O pai de Psique, suspeitando que, inadvertidamente, havia ofendido os deuses, resolveu consultar o
oráculo de Apolo, pois suas outras filhas encontraram maridos e, no entanto, Psique permanecia
sozinha. Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma
solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente. A jovem aterrorizada foi levada
ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos. Conformada com seu destino,
Psique foi tomada por um profundo sono, sendo, então, conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um
lindo vale.
Quando acordou, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico. Notou que lá
deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes.
Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por
ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz.
Chegando a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de ali encontraria
finalmente o seu terrível esposo, começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto. No
entanto, uma voz maravilhosa a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu
corpo. A esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, já havia chegado o dia e seu
amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites.
Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não
responder aos seus chamados. Psique sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorava ao seu
amante para deixá-la ver suas irmãs. Finalmente, ele aceitou, mas impôs a condição que, não
importando o que suas irmãs dissessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.
Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram
tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente
sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida e a curiosidade
tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se
assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava
grávida e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria
mortal.
Ao receber novamente suas irmãs, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de
origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas
aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a
identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com
ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama,
decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matálo.
Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.
A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do
rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém
deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e
doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.
Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado
de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros,
acordando-o.
Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha
mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha
cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe
imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."
Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem
próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio
próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para
esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.
Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o
topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro,
para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu,
e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.
Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da
terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá
encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos
e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma
divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para
quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
- "Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias
forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece".
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho
havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida
por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria
realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.
Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de
trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma
formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar
cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada
pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando
ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a
descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria
atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte,
atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta montanha e trazer para Afrodite uma jarra cheia com um
pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um
dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo
próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.
Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria
descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que
deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se,
para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre, porém, murmurou instruções de como
entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades. Ensinou-lhe ainda como driblar os
diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a
Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a
- "Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras
coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais”.
Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu
trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu
retorno, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se
apossou.
Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na
caixa, salvando-a.
Lembrou-lhe novamente que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora
podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa.
Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e
ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou
que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses e a ela foi oferecida uma taça de
ambrosia. Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu
filho, chamado Voluptas (Prazer).

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